´A UESC transformou-se em referência de ensino, pesquisa e extensão no Nordeste´

Cristiano Bahia
Ascom

Cristiano Bahia é professor adjunto da UESC, com formação em Educação Física (Faculdades Montenegro) e Economia (UESC), Mestrado em Cultura e Turismo (UESC), Doutorado em Educação Física (UFSC). Foi professor da Educação Básica, durante 14 anos, e Coordenador dos Jogos Escolares da Bahia de 2008 a 2012.  Exerceu a docência no Ensino Superior nas Faculdades Montenegro, UNEB e UNIME. Atualmente é Diretor do Departamento de Ciências da Saúde da UESC, professor e orientador do Mestrado Profissional de Formação de Professores da Educação Básica. Redator e consultor das Orientações Curriculares da Educação Básica do Estado da Bahia.  Avaliador de cursos do Conselho Estadual de Educação da Bahia e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC). O professor Cristiano almeja disputar a eleição para reitor da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).

Nesta entrevista exclusiva ao JBO, ele fala sobre propostas e o que pensa da instituição. Confira.

 

O que representa hoje a UESC para o sul da Bahia?

A Universidade se configura em um espaço de produção do conhecimento a serviço da sociedade, disponibilizando sua capacidade instalada no ensino, na pesquisa, na extensão e na inovação e tecnologia para construir e difundir o saber.  A nossa UESC, neste contexto, representa para o sul da Bahia um “campo” estratégico de possibilidades de promoção do desenvolvimento científico, socioeconômico, cultural e humano. A sua missão, segundo o seu Estatuto, é “formar sujeitos com sentido ético, humanístico e emancipatório na produção e difusão do conhecimento, fomentando a excelência profissional, a cidadania, o desenvolvimento humano, social, econômico, cultural e técnico científico. A UESC representa um lugar de inovação científica, social, política, tecnológica, de formação humana, comprometida com a produção e divulgação do conhecimento, tendo o propósito de minimizar as mazelas sociais, políticas e econômicas, por meio do capital humano qualificado pela Universidade.

O senhor não acha que o muro que separa a UESC do restante da região ainda é alto demais para contribuir de forma mais intensa na solução dos problemas regionais?

Creio que o termo mais apropriado não seja muro, mas reconheço, infelizmente, que ainda existem várias barreiras a serem superadas entre a UESC e a sociedade. Produzimos um vasto conhecimento e proporcionamos ampla formação nas licenciaturas, (além dos cursos EaD), nos bacharelados, nos mestrados, nos programas unificados (mestrado e doutorado) além dos projetos de ensino, iniciação à docência, iniciação científica e projetos de extensão, atividades das quais  parcela da comunidade talvez não tenha conhecimento e provavelmente não se reconheça como destinatária direta ou indireta do que é produzido na UESC. Neste contexto, todo o conhecimento gerado pela Universidade acaba restrito ao campus, às publicações e eventos científicos, não sendo divulgado de maneira efetiva para a sociedade e para a comunidade local mais imediata do entorno da UESC. Para diminuir essa distância entre UESC/sociedade, precisaremos pensar coletivamente em ações propositivas de maior transparência, comunicação e marketing social, para dar ampla divulgação das ações de ensino, de pesquisa, de extensão, de inovação e tecnologia e dos serviços oferecidos à comunidade. Para tanto, a UESC precisará investir em ações preconizadas nas premissas do Governo Eletrônico com a utilização das tecnologias da informação e de comunicação (TICs) para democratizar o acesso à informação e aos serviços prestados pela UESC, vencendo as barreiras e favorecendo a participação da comunidade no contexto da instituição, por meio da integração ensino/serviço. Transformar a relação da Universidade com a sociedade e promover interatividade com cidadãos, empresas e órgãos governamentais melhora o processo de democratização da informação, dinamizando os serviços públicos e proporcionando uma administração pública mais eficiente e próxima das pessoas, já que, agora, a sociedade possui instrumentos para se manifestar junto aos órgãos, entidades e autarquias governamentais.

O que mudou positiva e negativamente na instituição nas últimas décadas?

A transformação de uma Instituição de direito privado para uma Instituição pública é o marco mais relevante de mudança positiva nas últimas décadas, a despeito do panorama tão complexo no âmbito das universidades públicas, especialmente ao que se relaciona com dotações orçamentárias e repasses financeiros. Do meu ponto de vista, a UESC transformou-se em uma Universidade de referência no estado e no Nordeste em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, em sua área de abrangência formada pelas regiões econômicas do Litoral Sul, com 53 municípios, e do Extremo Sul, com 21 municípios, totalizando 74 municípios. De acordo com os dados disponibilizados no Plano de Desenvolvimento Institucional 2019/2013 (PDI), a UESC possui 33 cursos regulares de graduação com 6.375 estudantes matriculados, sendo 5.655 em cursos de oferta regular, 38 em cursos especiais (PARFOR) e 682 na modalidade de educação a distância. Na extensão, foram realizadas, em 2018, 289 ações continuadas e 211 cursos e eventos, nas áreas da Educação (83 ações continuadas e 58 cursos e ventos), na Saúde (62 ações continuadas e 15 cursos e ventos), na Tecnologia e Produção (49 ações continuadas e 15 cursos e ventos) e no Meio Ambiente (22 ações continuadas e 4 cursos e ventos).  Nas últimas duas décadas, houve uma expansão do ensino de Graduação e de Pós-graduação, passando de um curso para os atuais 33 cursos e 26 programas. Outra mudança positiva foi a captação de recursos externos para a pesquisa e a pós-graduação. Esse fato tem relação com a melhora da estrutura da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação com a criação da subgerência de apoio a projetos institucionais. Nesse período, mais de 22 milhões de reais foram captados para incremento da estrutura de pesquisa e para projetos de pesquisa. Além disso, a criação do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) favoreceu um maior desenvolvimento tecnológico e uma maior integração com a iniciativa privada. Nos últimos 5 anos, a UESC registrou 36 (trinta e seis) depósitos de patentes junto ao INPI, 37 registros de marcas e 10 registros de softwares.

E negativamente?

Em uma perspectiva negativa, vejo os problemas de contingenciamento das verbas públicas de investimento e a burocracia excessiva, principalmente criada pelo governo do estado, o que vem dificultando a execução das atividades finalísticas da Universidade. Além disso, a UESC possui várias barreiras na interlocução Universidade/sociedade e gargalos na comunicação interna, situações que precisam ser revistas e aperfeiçoadas.

O que te leva a pleitear a reitoria da UESC?

A decisão de colocar o nome à disposição da comunidade surgiu da nossa trajetória pessoal, profissional e acadêmica diante do reconhecimento e legitimidade no agir, nas relações estabelecidas ao longo do ciclo de desenvolvimento profissional e diante das competências e habilidades humanas e técnicas identificadas pelos pares.  A minha experiência enquanto gestor do Departamento de Saúde, 4 anos como vice-diretor e 3 anos como diretor, sendo eleito por 4 vezes com maioria dos votos, impeliu-me a querer contribuir mais com a Instituição. Além disso, o compromisso institucional e as relações com a sociedade, principalmente na condição de docente da Educação Básica durante 14 anos, apontaram-me algumas possibilidades de ação institucional para colaborar com a efetiva transformação da educação no estado e na região desde os primeiros níveis de ensino. Além disso, gostaria de contribuir para elevar os patamares acadêmicos e de gestão da nossa UESC, tendo sempre como parâmetro a expressão em latim do nosso brasão, IN ALTUM, que em tradução livre significa: ao alto, ao infinito, mais alto. A formação em Economia propicia uma visão macro e micro da política, da sociedade e principalmente do setor público. Desse modo, considerando a minha trajetória enquanto servidor público do estado da Bahia, candidatar-me ao cargo de Reitor da UESC é pôr em prática o pleno direito político garantido ao cidadão brasileiro de pleitear um cargo eletivo.

Quais os apoios que estão sendo firmados para a concretização disto?

A pré-candidatura a Reitor tem o professor e Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação George Albuquerque como, também, pré-candidato a Vice-reitor. O processo de apoio vem sendo construído coletivamente com escutas e diálogos, com um grande leque de pessoas no âmbito interno e externo, há cerca de um ano, com o envolvimento de docentes, técnicos, analistas universitários e servidores comissionados, bem como discentes de diversos colegiados e departamentos.

Qual a realidade da educação superior hoje no sul da Bahia?

O Ensino Superior na região sul da Bahia, até o ano 2000, possuía, além da UESC, apenas as Faculdades Montenegro em Ibicaraí. Hoje, temos a UESC, a Universidade Federal do Sul da Bahia e mais quatro faculdades particulares no eixo Ilhéus-Itabuna, além de polos das faculdades a distância. Neste cenário, podemos observar o grande crescimento das possibilidades de acesso ao ensino superior à sociedade regional e afirmar que tais instituições possuem um relevante papel na formação de pessoas que, em seus municípios, poderão articular políticas de desenvolvimento regional e socioeconômico.

A gente observa que há forças, digamos, desproporcionais entre alguns cursos – alguns mais valorizados que outros. O senhor vem do curso de Educação Física, não muito conhecido fora da realidade acadêmica. Isso dificulta a sua candidatura? Falo interna e externamente.

Na trajetória formativa e profissional, iniciei a minha história como professor de Educação Física Escolar em 1998, na Escola Estadual Moysés Bohana, em Ilhéus, local em que estabelecemos fortes laços pessoais e de trabalho e, em 2008, assumimos um compromisso com o estado da Bahia para a implantação de uma política de Esporte Escolar, com Os Jogos Escolares da Rede Pública da Bahia, completando 10 anos. Não concordamos que o curso de Educação Física não é muito conhecido fora da realidade da academia, em virtude da legalidade e legitimidade que a área vem alcançando nos últimos anos na região. Na perspectiva das influências da formação inicial na pré-candidatura à Reitoria da UESC, tenho a certeza que este fato não prejudica o nosso propósito, pelo contrário, as minhas experiências como professor de Educação Física e como professor da UESC qualificaram-me para disputar uma eleição deste porte. Além disso, o apoio que tenho recebido dos docentes, técnicos, analistas e alunos motiva-me cotidianamente a seguir em frente, mantendo minha pré-candidatura, o que demonstra a acolhida da comunidade acadêmica e o alinhamento com nossa visão de uma gestão universitária democrática e transparente.

Conte um pouco a sua trajetória na instituição

Minha trajetória docente em instituição pública de Ensino Superior na Bahia, teve início em 2003 quando trabalhei na UNEB até maio 2006 e na UESC iniciei em junho de 2006. A partir disso, desenvolvi atividades de extensão na coordenação do Projeto Pintando o Esporte desde 2007, ofertando práticas esportivas aos escolares do Salobrinho. Coordenei o curso de Especialização em Educação Física e Esporte da UESC em parceria com a Secretaria de Educação Estadual da Bahia, qualificando 105 docentes de Educação Física, no período de 2010 a 2014.  No ensino, atuo no curso de Educação Física como docente nas áreas do esporte, da Educação Física Escolar e dos estágios. Na pesquisa, venho desenvolvendo estudos na área da formação inicial e continuada, no curso de Educação Física, e como professor e orientador no Mestrado Profissional de Formação de Professores da Educação Básica. Sou Pesquisador da rede CEDES (Projeto aprovado no Ministério do Esporte/Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social). Na administração, participei de várias comissões internas e atualmente venho contribuindo na gestão do Departamento de Saúde, durante os últimos anos como vice-diretor e diretor. Atualmente desenvolvo atividades em parceria com a Secretaria Estadual, como Redator e consultor das Orientações Curriculares da Educação Básica do Estado da Bahia. Sou Avaliador de curso do Conselho Estadual de Educação da Bahia e do INEP.

Caso eleito reitor, o que precisa mudar, avançar, na instituição?

Nossas intenções estarão direcionadas e baseadas nos Princípios da Administração Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência; no Plano de Desenvolvimento Institucional 2019/2023; na perspectiva de desenvolvimento; na descentralização de ações e decisões; no trabalho em equipe com decisões coletivas; no compromisso, na ética, no respeito, na confiança; nas relações interpessoais; no Regimento e Estatuto da UESC; no respeito às administrações do passado. Adicionalmente, pretendemos desburocratizar processos, fortalecer as ações de ensino e de extensão, estreitar as relações entre Universidade-sociedade-comunidade, promover a internacionalização, buscar novas fontes de recursos e equidade de oportunidades, estes são alguns dos desafios da UESC para os próximos anos. Na estrutura interna, precisaremos buscar estabelecer novas políticas de assistência estudantil, de apoio direto aos processos de fortalecimento da identidade dos técnicos e analistas universitários; articular ações de integração entre a UESC/SERVIÇO E COMUNIDADE; buscar, junto ao governo do estado em parceria com o DCE, a AFUSC e a ADUSC, o aumento da Receita Líquida; implementar políticas de apoio às questões biopsicossociais de todos os atores da comunidade acadêmica; implementar parcerias  com a iniciativa privada para diversificar a captação de recursos. Enfim, há muitos desafios a serem enfrentados! Mas com transparência, mérito e humanização em nossas atividades será possível enfrentá-los de forma mais justa, humana e assertiva.